O desafio de governar é a leitura do tempo. Exige-se do mandatário e das instituições que comanda a sintonia com o presente para que possa antecipar-se ao futuro. Sem conectar-se com o contemporâneo, condenará os governados à pobreza e ao atraso.
Respostas antes adequadas envelhecem. Tornam-se obsoletas. O dinamismo dos fatos impõe novos paradigmas. É o caso da energia. Os apagões que devolvem o Brasil ao século passado acendem sinal vermelho para o desenvolvimento nacional. Há carência do insumo.
Sem os investimentos aptos a afugentar a crise energética, afugentaremos o capital interessado em fincar raízes no país. O empreendedor só aplica nesta ou naquela região se tiver cenário favorável a longo prazo. É ingenuidade imaginar que promessas substituem obras.
Três grandes usinas indispensáveis ao salto no fornecimento energético estão com o andamento emperrado. Santo Antônio e Jirau, localizadas em Rondônia, e Belo Monte, no Pará, sintetizam os dilemas que se apresentam ao setor no desafio de ampliar a infraestrutura de abastecimento do país.
Os entraves se repetem apesar da virada do século e das urgências impostas por nova realidade. Desde a assinatura dos contratos, multiplicam-se os problemas em razão de demora na liberação de licenças ambientais, movimentos grevistas injustificáveis e ocupação dos canteiros de obra por populações indígenas.
Como diz o conselheiro Acácio, as consequências vêm depois. O personagem de Eça de Queiroz se notabiliza por dizer o óbvio - óbvio que a cegueira institucional teima em ignorar. A urbanização acelerada, o crescimento do parque industrial e a inserção no mundo globalizado forçaram mudanças estruturais cuja concretização não pode ser procrastinada.
O Brasil precisa de energia para crescer. Juntas, Santo Antônio e Jirau terão capacidade instalada de 6.450MW - praticamente a metade da gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu. Especialistas não hesitam em afirmar que se trata de caminho certo para solucionar a tragédia decorrente do racionamento de energia no país.
Investimentos do porte exigido pelas três megausinas não podem ficar reféns de decisões rígidas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). As instituições têm de sintonizar o contemporâneo. Em bom português: administrar as adversidades com novos paradigmas. Os tempos são outros. A realidade é outra. Os desafios são outros.
Fonte: Correio Braziliense
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