Os brasileiros estão enfrentando dificuldades cada vez maiores para pagar, em dia, as contas de água e de luz. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) mostram que 7,1% das famílias deixaram de honrar os compromissos em dia em fevereiro. Dos que estão com a fatura em atraso, 69% devem às concessionárias há mais de um ano. Os números, segundo os especialistas, tendem a piorar muito a partir de agora, pois entrará o período de maior reajuste nas tarifas. Apenas em março, o aumento médio da conta de energia será em 23,4%. Em Brasília, a água ficou 16% mais cara desde o dia 1º.
O que chama a atenção dos técnicos do SPC é que estão aumentando, de forma expressiva, os atrasos em todas as contas superiores a 90 dias. Isso mostra que os consumidores não estão conseguindo resolver as pendências financeiras, devido à disparada da inflação e à queda da renda. Para piorar, o desemprego voltou a subir. Apenas em janeiro, avançou um ponto percentual, para 5,3%, apenas nas seis principais regiões metropolitanos do país. Os mais pessimistas preveem que a taxa de desocupação deverá fechar o ano entre 6,5% e 7%. Será um incentivo a mais para o calote.
Sem crédito
No mês passado, de acordo com a pesquisa do SPC Brasil, houve crescimento de 2,33% da inadimplência no país, em comparação com o mesmo período do ano passado. É a menor variação desde 2011, mas, segundo os economistas do órgão, essa redução não tem qualquer relação com o pagamento de dívidas em atraso e sim com a dificuldade de consumo.
“A queda no estoque de crédito tornou mais restrita a concessão de empréstimos. Como consequência, esse fenômeno tem provocado uma redução na base de dívidas a serem pagas”, afirmou Marcela Kawauti, economista da SPC Brasil. “O cenário, contudo, está longe de ser positivo. “A disparada da inflação, a alta dos juros, o avanço do desemprego e a queda na confiança das famílias brasileiras, diante de um cenário de recessão, continuam a corroer o poder de compra do consumidor”, acrescentou.
Em fevereiro, 53,6 milhões de pessoas estavam com restrição no nome, equivalente a 36,9% da população acima de 18 anos. Entre o número de devedores, a variação de inadimplentes entre 18 e 29 anos registrou queda, enquanto na faixa etária de 30 a 64 anos o calote subiu. “Os mais jovens estão adiando a entrada no mercado de trabalho e consumindo menos. Já os com mais de 30 anos têm mais despesas, e acabam acumulando dívidas com maior peso no orçamento”, afirmou a economista do SPC Brasil.
A quantidade de inadimplentes com contas entre três a cinco anos de atraso tiveaumento de 8,05%, a maior variação, com uma participação de 37% do calote total.
Fonte: Correio Braziliense
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